domingo, 7 de fevereiro de 2016

Modernismo em Portugal (1915-.....) e no Brasil (1922 até dos dias atuais)

MODERNISMO EM PORTUGAL: 1915

No começo do século XX, o progresso tecnológico, as disputas das grandes potências por mercados de consumo, os movimentos políticos nacionalistas e a Primeira Guerra Mundial provocaram profundas transformações na sociedade européia, atingindo as artes em geral e a maneira de se olhar o novo cenário que se impunha.
Surgem, então, na Europa, várias manifestações artísticas, sob a denominação genérica de movimentos de vanguarda, que tinham posições comuns em relação às artes: liberdade, interpretação pessoal da realidade, rebeldia, ilogicidade, busca de novas formas de expressão, etc.
1- Futurismo Itália): Movimento lançado pelo poeta Marinetti, em 1909, que propunha a destruição do passado, exaltação da vida moderna, o culto da máquina e da velocidade. Enaltecimento da guerra, militarismo e patriotismo. Marinetti preconizava a destruição da sintaxe, eliminação da pontuação e abolição do adjetivo, advérbio e conjunções.
2- Cubismo (Espanha): Na pintura decompunha objetos da realidade cotidiana em diferentes planos geométricos para sugerir a estrutura global. Na poesia valorizava o subjetivismo, a ilogicidade, a frase nominal, o tempo presente e o humor. Na pintura um dos exemplos é Picasso.
3- Dadaísmo (Suíça): Movimento Dadá, lançado em Zurique, pelo romeno Tristan Tzara, em 1916. Ele reflete a atmosfera pessimista da Primeira Guerra Mundial. Pregava a destruição de todos os valores culturais da sociedade que fazia a guerra, instalando o absurdo, o ilógico e o incoerente. Buscava-se assim uma antiarte, irracional e anárquica, aproximando-se com o mundo dos loucos e das crianças.
4- Surrealismo (França): Movimento lançado na França, em 1924, valorizava o passado, buscava a emancipação total do homem fora da lógica, da razão, da família, da Pátria, da moral e da religião. Influenciados pela teoria psicanalítica de Freud, os surrealistas conferiam importância ao sonho e à exploração do inconsciente, praticando automatismo psíquico e a expressão libertada da censura e sem controle da razão.
Estes movimentos influenciaram o Modernismo brasileiro.
O marco inicial do Modernismo em Portugal foi a publicação, em 1915, da revista Orpheu. A sociedade portuguesa vivia uma situação de crise aguda e de desagregação de valores. Os modernistas portugueses respondem a este momento, agredindo o sistema com escândalo e sarcasmo. Os principais modernistas em Portugal foram:
1- Fernando Pessoa (1888-1936): Nasceu em Lisboa e viveu na África do Sul até 1905. Ele
foi um dos maiores escritores de Portugal. Seus temas são marcados pelo idealismo, nacionalismo, ceticismo, tristeza, melancolia, tédio. O aspecto mais marcante deste poeta são seus heterônimos, isto é, outros poetas que ele criou como se existissem verdadeiramente: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos.
2- José Saramago: Nasceu m 1922, em Azinhaga, Portugal. Filho de camponeses, tornou-
se romancista, teatrólogo e poeta de expressão internacional. Recebeu o prêmio Nobel de literatura em 1998. Suas obras tornaram-se best-sellers, traduzidas para muitos idiomas, do Japão aos Estados Unidos. Adepto de ideais comunistas, Saramago envolveu-se com a vida política de Portugal e mergulhou com profundidade na cultura e civilização explorando múltiplos aspectos.
3- Mário de Sá-Carneiro: Nasceu em Lisboa em 1880. Em 1915 lança a revista Orpheu em Lisboa.

MODERNISMO BRASILEIRO: 1922 até os dias atuais
O início do Modernismo no Brasil é assinalado pela Semana de Arte Moderna, ocorrida em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal, em São Paulo. A Semana de 22 foi o resultado de uma série de eventos, que marcaram a vida cultural brasileira nas duas primeiras décadas deste século. São eles:
1912: O retorno de Oswald de Andrade da Europa, imbuído do Futurismo, que se baseia numa vida dinâmica, voltada para o futuro, numa linha positivista e materialista.
1913: A primeira exposição do lituano Lasar Segall no Brasil, com sua pintura expressionista.
1915: A publicação em O Estado de São Paulo de dois artigos: “Urupês” e “Velha praga”, de Monteiro Lobato, em que ele condena o regionalismo sentimental e idealista.
1917: A Exposição de Anita Malfatti, em que ela apresenta o cubismo, desprezando a perspectiva convencional e representando os objetos com formas geométricas.
1920: Apresentação da maquete do Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret.
1921: O retorno de Graça Aranha da Europa e a publicação de “ Estética da vida” , em que ele condena os padrões da época.
Todos esses fatos ocorriam, enquanto o país passava por um período histórico conturbado, que resultaria no fim da República Velha ( 1889-1930). O ano de 1922 foi muito especial nesse contexto. Justamente no centenário da Independência, em meio a crises no cenário político e militar, intelectuais e artistas, influenciados pelas idéias da vanguarda européia, organizaram, então, a Semana da Arte Moderna, com vários eventos: sessões, conferências, manifestos, poemas, músicas, recitais, exposições de artes plásticas, quadros e esculturas com a participação de: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guiomar Novais, Heitor Villa-Lobos, Paulo Prado, etc. Iniciava-se o Modernismo no Brasil, renovando a mentalidade nacional e colocando o país na atualidade do mundo.

FASES DO MODERNISMO
O movimento modernista brasileiro passou por três fases distintas, que podemos relacionar com os acontecimentos políticos do país.

Modernismo da 1ª fase: 1922-1930 (Fase heróica)
É uma fase de definição de comportamentos e tendências, cheia de publicações de revistas e manifestos. Também na política, o Brasil passa por momentos de transformações (fim das oligarquias rurais e da política do “café com leite”), que vão culminar com a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas sobe ao poder. É o período mais radical do Modernismo, caracterizado:
· pelo menosprezo e pela destruição de tudo o que havia sido feito anteriormente, isto é, rompimento total com o passado;
· pelos ideais anárquicos;
· por um nacionalismo exagerado;
· pelo primitivismo, isto é, pela volta às origens.
Os principais autores da primeira fase são: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Antônio de Alcântara Machado, Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado.





Modernismo da 2ª fase: 1930-1945 (Fase construtiva)
Esta foi uma fase de construção, com idéias literárias inovadoras e de muita produtividade – na prosa e na poesia. Politicamente, os acontecimentos eclodem, tanto fora do país (depressão econômica, nazismo, Segunda Guerra Mundial) como aqui dentro (ditadura de Getúlio Vargas e o Estado Novo). Abrem essa fase, Mário de Andrade, com a obra “Macunaíma”, e José Américo de Almeida, com “ A bagaceira”. As características dessa fase são:
· literatura construtiva e com consciência política, que não quer negar as mudanças dessa época;
· reflexão e posterior amadurecimento das idéias da Semana de 22. A grande maioria dos autores são os mesmos da primeira fase, além de:
· Ficção regional: Érico Veríssimo, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz;
· Romance urbano e psicológico: Marques Rebelo, Lúcio Cardoso, Octávio de Faria, José Geraldo Vieira, Cornélio Pena;
· Poesia: Carlos Drummond de Andrade, Cassiano Ricardo, Cecília Meireles, Augusto Frederico Schmidt, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes, etc.



Modernismo da 3ª fase: 1945 até os dias atuais (Fase de reflexão)
Nessa época no Brasil é o período em que se encerra a ditadura de Getúlio Vargas e, no cenário mundial, o final da segunda Guerra Mundial.
Na literatura, os autores brasileiros fogem dos excessos iniciais da geração de 22 e já é possível vislumbrar na prosa, uma produção intimista e introspectiva, sendo Clarice Lispector a figura mais representativa desse tipo de romance. Ou uma literatura regionalista, cujo representante magistral foi Guimarães Rosa, ao registrar a psicologia, a fala e o mundo do jagunço do centro do Brasil.
Na poesia destacam-se: João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Ledo Ivo, Mauro Mota; além de Mário Palmério, Fernando Sabino, Osman Lins, Dalton Trevisam, etc.
Os autores modernos não fundaram propriamente uma nova escola literária, com regras rígidas. Ao contrário desvincularam-se das teorias das escolas anteriores e procuraram transmitir suas emoções, os fatos da vida atual e a realidade do país de uma forma mais livre. Percebe-se nos autores modernos um vocabulário cheio de expressões coloquiais, traduzindo a fala típica brasileira, versos livres, estilo conciso.
A partir de 1950, surgem novas tendências em poesia, como o Concretismo, o Neoconcretirmo, a Poesia-Práxis e o Poema-processo.